Cães heróis

Cães que salvam vidas e prendem vilões são personagens comuns no cinema desde 1920, quando o pastor alemão Rin Tin Tin fez fama decidindo a trama de dezenas de filmes. Não se trata apenas de ficção: na vida real há casos espetaculares de cães heróis. Um feito muito comum é a de cães que alertam os donos em situações de perigo. Como a atriz Drew Brarrymore, que em 1998 foi salva pelo vira-lata Flossie em um incêndio que destruiu sua mansão em Bervely Hills. Ficou tão grata que depois registrou em nome do cão a propriedade avaliada em 3 milhões de dólares.

Alguns cães têm um heroísmo inato tão evidente que nem precisam de treinamento para realizar suas proezas. Como o terranova, que tem fama de “resgatar” quem não está precisando – ele pula na água e nada em direção a qualquer pessoa que enxergar, mesmo que o cidadão esteja só dando um mergulho, e não se afogando.

Outros aprendem a se tornar salva-vidas profissionais. Como os labradores e o golden retrievers, os preferidos como guia para cegos, surdos e deficientes físicos. Depois de cerca de 2 anos de treinamento, eles são capazes de realizar tarefas de grande responsabilidade: se transformam em olhos para atravessar ruas movimentadas, ouvidos para quem não é capaz de escutar um bebê chorando, mãos e pernas para cadeirantes que precisam alcançar objetos no chão ou no alto.

Poucas vezes os cães tiveram oportunidade tão boa para mostrar seus dotes de salvamento como depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, uma das maiores tragédias da história recente. Mais de 100 labradores, golden retrievers, border collies, pastores alemães, cocker spaniels e vários vira-latas talentosos trabalharam para encontrar sobreviventes. Como o pastor Trakr, que apontou o local onde estava a última sobrevivente resgatada, Genelle Guzman-McMillan, que passou 27 horas soterrada.

Outro sobrevivente da tragédia também deve sua vida a um cão. O técnico em computação cego Omar Eduardo Rivera trabalhava no 71o andar da torre norte quando um dos aviões atingiu a torre. Seu cão-guia Dorado, um labrador, descansava debaixo da mesa. Entre sons de pânico e cheiro de fumaça, Rivera resolveu soltar Dorado, certo de que não conseguiria sair dali com vida – pelo menos o cachorro teria uma chance. Fez um último carinho no amigo e tirou sua coleira. Mas o cão não pensou da mesma maneira: deu meia volta e empurrou Rivera em direção à escada de emergência. Guiou o dono em uma descida que durou uma hora até chegar à porta da rua. Se Rin Tin Tin ainda fosse vivo, certamente adoraria interpretá-lo no cinema.

Campeões da coragem
Assim como o pastor-alemão aqui em cima, algumas raças parecem ter o espírito heroico gravado em seu DNA

São Bernardo
Origem – Suíça, séc. 17
O “barril de rum” no pescoço é só para a foto, mas diferente de outros mastins, o são bernardo foi criado para salvar, não atacar. O nome da raça homenageia o local onde ela foi criada, por monges, nos alpes. São famosos pelos resgates na neve.

Pastor-Alemão
Origem: Alemanha, início do século 20

Ele é um ótimo cão de guarda, excelente farejador, leal e perfeito para ser adestrado. A raça é recente: durante a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha empregou 48 mil pastores para reconhecer terrenos e carregar linhas telefônicas. Impressionados com a eficiência dos cães, ingleses e americanos levaram a raça também para seus países. A partir daí, foi sucesso absoluto mundo afora.

Labrador
Origem – desconhecida, antes do século 17

A raça do famoso Marley, do filme Marley & Eu, é a preferida no Reino Unido e nos EUA. Um dos cães mais inteligentes do mundo, adora água e pode ser treinado para todo tipo de resgate.

Golden retriever
Origem – Escócia, 1865

Terranova
Origem – Ilha Terra Nova, no oceano Atlântico, séc. 17

Cães ilustres 

Rin Tin Tin o astro
O pastor mais famoso do mundo nasceu na França. Abandonado, quase morreu de fome. Mas deu sorte: foi adotado por um cabo do Exército americano, levado para Los Angeles e, em 1922, tornou-se a maior estrela da Warner Bros. Fez 26 filmes em 10 anos. Sorte também dos estúdios de cinema, que se salvaram da falência.

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Para saber mais
100 cães que mudaram a civilização, Sam Stall, Prumo, 2009

16 fotos antes e depois de cachorros resgatados

1. Miley

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Miley foi encontrado vivendo em uma pilha de lixo, gravemente ferido e mal conseguia andar. Agora Miley está feliz e saudável, vivendo em uma casa nova com sua nova família.

2. Rasta

Esse pobre rapaz foi encontrado nas ruas de Montreal olhar tão sujo que era difícil dizer que ele era realmente um cão, cheguei até postar  aqui no site. Ele mal conseguia se mover debaixo de todo seu cabelo emaranhado. Mas veja como charmoso ele parece após sua limpeza!

3. Kenzi

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Kenzi veio ao salvamento de cocker spaniel de Austin & San Antonio de San Antonio como um caso de abuso / negligência. Sua transformação mostra que algum cuidado e banho relaxantes mudam a vida de qualquer cãozinho.

4. Ellen

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Fundação trio animal saiu e pegou um tufo de pêlo emaranhado de um abrigo de acesso aberto. A pele em pobres pernas de Ellen era tão pesada que ela estava começando a arrancar pela raiz. foram retirados 2 quilos de pelo, isso mesmo, 2 kilos. Agora, esta linda garotinha de 2 anos de idade está pronta para sua nova vida começar.

5. Dolly

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Uma mulher viu este pequeno poodle comendo de uma lata de lixo, em Los Angeles. Ela estendeu a mão para Hope For Paws, que o ajudou essa poodle a a se tornar essa fofa e encantadora novamente. Foram retirados 10 quilos de pele do cão de 15 quilos.

6. Theo

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Proprietários de Theo se afastou e deixou a pobre criatura a viver nas ruas, onde passou cerca de um ano até Hope For Paws resgatá-lo. Hoje ele está assim.

7. Betty

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Betty foi abandonada por seus proprietários. Uma vez envergonhado por sua aparência, ela está pronto para uma nova casa.

8. Woody

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Woody foi despejado nas ruas depois que seu proprietário faleceu. Ele se escondeu por meses e não deixava ninguém perto dele (Outro que cheguei a postar aqui no site também). As equipes de resgate logo perceberam que o cachorro era cego de um olho. Apesar do medo, ele se rendeu ao toque suave das equipes de resgate.

9. Treasure

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Treasure, de 2 anos de idade, do sexo feminino é uma poodle miniatura de raça pura, foi esquecida antes de ser descoberto por um motorista que passava, que a levou para o Natchez-Adams County Humane Society. Por causa de seu emaranhado, e cabelo grosso, sujo, ela não conseguia nem andar mais, até que uma visita ao veterinário fez a bela Treasure emergir novamente.

10. Alana


Alana foi entregue para o abrigo severamente emaranhado e sujo, dificilmente poderia ser reconhecível como um cão. Para dar as vacinas era obrigatório a tosagem completa, o que revelou aos veterinarios uma cadelinha muito mais jovem do que se pensava inicialmente. Alana encontrou um lar recentemente.

11. Boo

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Boo foi levado para os cuidados Animal Rescue Shelter & Comunidade Educativa, na Flórida, após ter sido encontrado na beira da estrada, toda molhada e fedendo a urina. Depois de ser limpo e arrumado, ela pesava apenas 2,8 quilos e parecia adorável.

12. Iggy


Esse pobre rapaz foi encontrado quase morto no México, com uma infecção ocular horrível. Alguém enviou uma foto dele no Facebook, compartilhando sua história. Pessoas foram tocados e doaram dinheiro para transportar o pequeno carinha para os EUA afim de tratar sua lesão. Agora é difícil manter Iggy quieto – tudo o que ele quer é correr e brincar com todos.

13. Vita

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Um homem encontrou Vita, morrendo de fome e perto da morte, em um ferro-velho na área de Los Angeles. Ela pesava apenas 70 quilos. As equipes de resgate passaram meses ajudando-a a reabilitar com uma boa assistência veterinária, preparação e uma dieta adequada, e agora ela é uma nova cadela.

14. Cedar

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Cedar foi nomeado após o campo de golfe perto de onde ele estava à espera de ser captada por alguém. Ele era careca de estresse, com ossos cutucando através de sua pele. Desde então, Cedar encontrou uma casa grande com um bom atendimento, onde ele se encaixa bem.

15. Olivia

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Esta é Olivia no dia em que foi feita a partir de um abrigo de animais por seu atual proprietário e, um ano depois. Que diferença um ano faz.

16. Shrek

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Shrek foi encontrado com pouco movimento, com as pernas cobertas de feridas e pele cheios de lama. Após seu excesso de pêlos removidos e seus ferimentos tratados, descobriram que ele era um maltês de 6 anos de idade, que havia sido criado em uma fábrica. Logo Shrek encontrou um lar amoroso.

Via: BoredPanda

Como os animais realmente enxergam o mundo

Três andares acima do térreo, a alguns lances de escada de distância, muito antes de você apalpar os bolsos em busca da chave, seu cachorro o aguarda ansioso atrás da porta. Ele sabe que você, e não o seu Zé, que recolhe o lixo do prédio todos os dias, está prestes a subir até o terceiro andar. Basta colocar o primeiro pé dentro de casa para receber a saudação calorosa do bichinho. E não importa com quem você esteja. Se chegar acompanhado com velhos ou novos amigos, ou mesmo com seu irmão gêmeo, que mora no exterior há alguns anos, ele não vai pular nas pernas erradas. Ele sabe quem é você.

Mas não sabe quem ele é. Coloque um ser humano em frente ao espelho e este animal bípede começa instintivamente a mexer no cabelo (achando que um tapinha na franja realmente vai deixá-lo mais bonito). Um cão, porém, consegue ser ainda mais bestial: a reação dele ao espelho é a mais completa indiferença. Nem uma olhadinha. Ele não reconhece a própria imagem. E se não reconhece a própria imagem, não tem aquilo que chamamos de consciência, certo? Até pouco tempo atrás, era o que a ciência achava. Animais que reconhecem a própria imagem no espelho teriam consciência – e aí entram basicamente nós, nossos primos (os grandes macacos – chimpanzé, gorila, orangotango), cetáceos e elefantes. Os bichos que não se reconhecem não teriam noção de “eu”. Não teriam consciência.

Mas a verdade provavelmente é outra. O problema não está nos animais que não se reconhecem no espelho. Está em quem testa a presença de consciência sob a ótica humana. O mundo de um cachorro ou de um gato não se cria majoritariamente com imagens, como o nosso. Eles veem com sons e, principalmente, cheiros. E o espelho exclui a melhor arma de reconhecimento do cachorro: o olfato. O biólogo Marc Bekoff, da Universidade do Colorado, testou o próprio bichinho para saber se ele era capaz, de alguma forma, de se reconhecer. Em vez de testar imagens, Bekoff pensou como um cão. Durante cinco invernos, toda vez que saía para passear com o companheiro, recolhia pedaços de neve onde o cão havia feito xixi. Depois, recolhia neve com urina de outros cachorros.

Então Bekoff espalhava os blocos de neve – alguns com xixi do cachorro dele, outros com o de outros cães -por lugares diferentes. E a reação do melhor amigo do pesquisador era sempre a mesma: quando encontrava a urina de outro cão, despejava um novo jato de xixi em cima para marcar o território como dele. Normal. Mas quando encontrava um bloco com a própria urina, não dava bola. Sabia que aquele xixi já era dele, então o território não precisaria de remarcação. Resultado: o cachorro sabe muito bem quem ele é. Mas diferentemente de você, que se reconhece pela fisionomia, ele faz isso pelo cheiro.

Se o nosso mundo é rico em imagens, o dos animais domésticos, as estrelas desta reportagem, vem carregado de sons, cheiros e sensações. E qualquer coisa acompanha uma porção de informações: um poste é uma fonte rica de notícias, diz se outro animal passou por ali, quem era, e há quanto tempo isso aconteceu. Ainda é impossível aguçar nossos sentidos, entrar na pele deles e entender a riqueza de cada cheiro, som, imagem ou sabor. Mas dá para entender como eles veem o mundo e descobrir por que seus pets insistem em fazer coisas que você odeia – ou adora.

Olfato além do alcance
Rememore a primeira informação desta matéria: gatos e cães constroem o mundo com cheiros, sons e um pouco de imagens. Para os cães, o olfato é fundamental. Existem entre 120 e 300 milhões de células olfativas dentro do nariz. Nós temos apenas 6 milhões. O que isso significa? Que eles podem até detectar câncer em humanos só farejando nosso hálito.

É o que pesquisadores do hospital Schillerhoehe, na cidade de Gellingen, Alemanha, descobriram em 2011. O oncologista Thorsten Walles e seus colegas deram amostras de tumores para que os cães farejassem. Era uma forma de treino, como fazem com cães farejadores de drogas – dão um osso de borracha com cocaína dentro para que o cão aprenda a reconhecer o cheiro do entorpecente; aí ele consegue reconhecer cocaína camuflada até dentro de sacos de café no fundo de uma mala.

Os alemães fizeram mais ou menos isso, só que com amostras de células cancerosas. Depois, pacientes com câncer de pulmão em estágio inicial sopraram dentro de tubos de ensaio (que eram tapados em seguida). Os cientistas treinaram os cachorros para sentar cada vez que sentissem “cheiro de câncer” em algum desses tubos de ensaio. E os cachorros acertaram 71% dos casos.

A ideia dos pesquisadores agora é construir uma espécie de “nariz eletrônico” que seja capaz de reconhecer os mesmos elementos químicos característicos de câncer que os cães farejam. Seria uma máquina capaz de detectar a doença logo nos estágios iniciais – uma revolução no mundo dos diagnósticos, que certamente salvaria vidas. Mas, por enquanto, há um problema: determinar quais são esses elementos químicos que denunciam a presença de um tumor. Como disseram os pesquisadores: “Infelizmente, os cães não têm como nos dizer qual é a bioquímica do cheiro do câncer”. Seja como for, o olfato deles continuará sendo uma ferramenta fundamental nessa busca.

Não é apenas a quantidade de células olfativas que deixa o nariz dos cães tão poderoso. As partes internas do nariz e suas divisões têm um papel importante. Para saber como funciona mesmo o nariz deles, uma equipe da Universidade do Estado da Pensilvânia convocou sete cães, colocou máscara neles e despejou alguns odores. Os pesquisadores conectaram o nariz de uma das cadelas participantes a um equipamento de ressonância magnética. Aí revelaram o caminho do ar dentro das narinas caninas. Descobriram áreas específicas de respiração e expiração. No nosso caso, por exemplo, não temos uma área onde guardamos o ar inalado e outra onde fica o ar exalado. Por conta disso, quando respiramos, paramos de “farejar” e soltamos todo o gás, carregado de odores, de volta para o mundo. Nos cães isso é diferente, enquanto respiram o processo olfativo continua ligado. E nenhum odor passa batido pelo cão. Por isso mesmo, tanto eles como os gatos (outros campeões na detecção de odores, com 200 milhões de células olfativas) usam o nariz para se reconhecer e trocar informações.

E para “coversar” com você. Fungando suas meias e sapatos, eles descobrem por onde você andou, se encontrou com outras pessoas, o que comeu, se fez sexo, fumou ou correu. Entende agora como seu calçado é tentador para eles? O sofá e a sua cama também. E onde mais houver o seu cheiro. Por isso mesmo, gatos e cachorros preferem ficar perto de lugares onde podem sentir o cheiro dos donos. Mesmo se for a sua poltrona nova. Isso funciona também com roedores – quando vão mudar de gaiola, recomenda-se colocar algum pano com o cheiro da gaiola antiga – e do dono.

O papagaio não se importa tanto assim com o seu cheiro. Com faro pouco desenvolvido, ele reconhece você pela aparência ou voz. O paladar de um papagaio, aliás, também é péssimo. Enquanto nós temos 9 mil papilas gustativas, nos papagaios esse número varia de 300 a 400. E ele não fica sozinho nessa pobreza gastronômica. Na língua dos gatos só aparecem 473 papilas. Os cachorros têm um pouco mais: 1,7 mil. Assim como os papagaios, esses dois mamíferos conseguem distinguir as quatro principais características da comida. Mas seu gato dispensa os doces, e o cachorro detesta comidas amargas (passe um caldo de jiló na ponta do móvel que ele adora morder para ver se essa mania não acaba). Com um paladar tão fraco, os dois não se importam em degustar com calma um prato de ração premium. Eles devoram os pratos – para que perder tempo se não tem um milhão de sensações para descrever, como fazem os humanos? Aliás, é por causa desse ponto franco que os dois animais engolem qualquer comida que cair no chão.

No fim da história, quem sabe mesmo apreciar um jantar são os roedores. Os porquinhos-da-índia e os coelhos têm 17 mil papilas gustativas espalhadas pela língua. Quase duas vezes mais do que nós. Então eles exigem um cardápio selecionado. Alguns desses bichinhos gourmet, para você ter uma ideia, até rejeitam verduras e folhas com agrotóxicos.

Mas a falta de sensibilidade dos cães e gatos fica só no paladar mesmo. Nas coisas que realmente importam para a nossa convivência com eles, os animais domésticos são gênios da percepção. Até os cavalos são mestres nesse quesito.

Os sons do silêncio
A história de Hans, um cavalo alemão, mostra bem a capacidade de observação e associação dos animais que criamos. No começo do século 20, ele se tornou celebridade por acertar equações matemáticas. O dono escrevia na lousa uma conta como 1/2 + 1/3 e pedia a resposta ao animal. Ele batia a pata cinco vezes no chão, esperava uns segundos e batia mais seis vezes. Ou seja: 5/6. O dono dizia ter treinado o animal por dez anos.

Pura malandragem do treinador. Por trás do “raciocínio lógico” do equino, o que havia era uma capacidade ímpar de observação. Ele conseguia perceber sinais sutis no rosto do dono, que o público não tinha como observar. E, assim, descobria quando deveria bater ou não as patas no chão. Ou seja: um cavalo pode ser um ótimo parceiro de truco.

Cães e gatos também. Eles reparam, associam e memorizam tudo. Cada gesto, cada barulho. Tudo serve de pista sobre o próximo passo do dono. Aquele tilintar de chaves sempre vem antes da despedida. O cheiro do perfume também precede a sua saída. Eles guardam e aprendem com esses sinais. Sabem quando você está prestes a ir embora – e demostram toda a tristeza que sentem nesses momentos…

É quase impossível escapar do radar dos cães e dos gatos. Os felinos escutam ainda melhor que os cães. E absurdamente mais do que você. Um som que passe dos 20 mil hertz (o extremo do agudo) fica inaudível para nós. Já os gatos ouvem até 60 mil hertz. Os cachorros chegam aos 45 mil hertz. Isso porque os dois evoluíram caçando roedores, então conseguem captar os sinais hiper agudos que os ratinhos emitem para se comunicar. Nem o som das vibrações corporais dos cupins passa batido pelos gatos. Até o som de lâmpadas fluorescentes (sim, elas fazem barulho) eles conseguem captar. Segundo a especialista em comportamento animal Temple Grandin, da Universidade do Colorado, se você estiver conversando no térreo, seu gato vai ouvir e reconhecer sua voz lá do décimo andar. Insano.

Eles ouvem sons naquilo que para nós é silêncio. Mas isso não impressiona tanto quanto uma habilidade de outro animal doméstico: o papagaio, que enxerga o que para nós é invisível.

Papagaios psicodélicos
Os papagaios veem o mundo com visão ultravioleta. Na prática, enxergam cores invisíveis. “Quando eles olham para os pelos de outro papagaio, conseguem saber se é macho ou fêmea”, diz Susan Friedman, especialista em comportamento animal da Universidade do Estado de Utah. Já nós, humanos, não conseguimos diferenciar papagaios de papagaias – só mesmo com intervenção cirúrgica para checar os órgãos genitais (um processo bem invasivo), ou com teste de DNA.

A visão ultravioleta também permite saber o grau de maturação de algumas frutas, como uvas, caquis e figos. Mas a graça dela vai bem além dessa parte mais pragmática. O mais bacana aqui é que os papagaios veem um mundo que para nós seria psicodélico. Temos três receptores de cor nos olhos (para verde, azul e vermelho). Então essas três são as nossas cores primárias – e a combinação entre elas cria as cores do nosso mundo. Os papagaios (e outras espécies de aves, peixes e répteis) têm quatro receptores: os nossos mais um dedicado ao ultravioleta. A combinação desses quatro cria um mundo estupidamente mais colorido que o nosso – um mundo tão difícil de imaginar quanto uma realidade com quatro dimensões, em vez das três que a gente conhece. O fato é que, se papagaios produzissem caixas de lápis de cor, elas teriam milhares de lápis. E olha que isso não é nada perto do que outros animais enxergam. O campeão mundial de visão, por exemplo, tem 12 receptores de cor. Doze cores primárias… Uau. E esse nosso amigo pra lá de lisérgico nem é um animal dos mais relevantes: trata-se do mantis, uma espécie de camarão.

Bom, pelo menos no mundo dos mamíferos nós levamos vantagem sobre os animais domésticos. O gato e o cachorro possuem só dois receptores de cor (azul e verde). Então o mundo deles é um pouco menos colorido que o seu. E diferente: o vermelho vira verde, o verde ganha um tom mais amarelado, e o violeta fica azulado. Até o preto parece mais desbotado. O porquinho-da-índia, diferente de outros roedores, que só enxergam em preto e branco, também tem visão bicromática (vermelho e verde). É como se eles, os cães e os gatos fossem daltônicos.

E essa não é a única diferença. As imagens da televisão, por exemplo, não fazem sentido para eles. Nosso olho, assim como o de outros animais, não apaga uma imagem no centésimo de segundo seguinte à captação. Ele ainda a mantém “viva” por uma fração de segundo. Se antes desse tempo surgir outra imagem, você terá a impressão de que as figuras estão em movimento. É o que acontece no cinema e na televisão: as cenas rodam numa velocidade de, no mínimo, 24 imagens por segundo. Se um filme mostrasse só cinco quadros por segundo, seria uma sequência quase pausada de figuras, como um filme em stop motion. É assim que os cães e gatos veem. Eles enxergam mais em menos tempo: um cachorro consegue ver de 70 a 80 imagens por segundo, um gato vê 100 imagens; até o porquinho-da-índia ganha de nós, com 33 imagens por segundo.

Essa percepção-extra faz com que eles vejam a programação de TV como se ela fosse em stop motion, com “cortes” entre cada cena. Além disso, a tela fica tremida e dá para ver a passagem dos quadros, que surgem de baixo para cima. Chaaaato.

As TVs digitais resolveram parte desse problema. Elas rodam numa velocidade mais alta, aí os cachorros conseguem ter uma visão mais parecida com a nossa, sem tremedeira na tela. Ainda assim, isso não basta para prender a atenção deles.

Mas para os cachorros, pelo menos, cientistas criaram uma solução: um canal de TV totalmente voltado a eles. Nicholas Dodman, veterinário e pesquisador da Universidade Tufts, lançou a novidade nos EUA no começo deste ano. O canal, chamado de DOGTV, mostra cenas de cachorros correndo pelo gramado, brincando entre si, pulando na piscina. Cada detalhe dos programas tem a ver com os interesses caninos. As cores foram adaptadas ao mundo “daltônico” deles e os sons também: o barulho da grama enquanto o cachorro passa por ela, o da bola que pinga no chão… O enquadramento também é diferente, as cenas foram filmadas do ângulo de um cachorro. Por exemplo, enquanto o bicho passa pela mata, o cachorro-telespectador vê a grama alta, como se ele mesmo passasse por ela. Dodman testou a eficiência do canal. Ele preparou três cenários para cachorros: canais humanos, como CNN ou Animal Planet, o DOGTV e uma TV desligada. Com monitoramento via câmera, o pesquisador concluiu que 75% deles assistiram pelo menos um bloco a mais do DOGTV do que das outras alternativas. Outra diferença é que cães e gatos enxergam melhor na penumbra. Em volta do glóbulo ocular deles existe uma membrana chamada tapetum lucidum, que funciona como um espelho e reflete toda a luz disponível de volta para a retina. Graças a isso, eles conseguem enxergar até 40% melhor do que os humanos no escuro.

É, perdemos feio nessas partes. Em compensação, temos um ponto a nosso favor: fóveas, que são uma porção de fotorreceptores na área central das retinas. Elas nos permitem ver bem coisas a poucos ou muitos centímetros do nosso nariz. Se você colocar um brinquedo numa distância entre 25 e 40 centímetros do nariz de um cão, provavelmente ele terá dificuldades em vê-lo. Ponto para nós. Mas, grande coisa, ainda ficamos atrás dos pássaros: os papagaios têm quase o dobro de fóveas. Sem contar o fato de os olhos estarem posicionados nas laterais do rosto. Isso permite a ele ver o que acontece ao redor numa panorâmica de quase 360 graus. Se soubessem driblar, seriam ótimos jogadores de futebol – até porque xingar o juiz, os papagaios já sabem muito bem.

O papagaio sabe o que diz?
Ele não grita biscoito à toa. Você ensina o que é biscoito, ele aprende e grita o dia inteiro na tentativa de ganhar mais comida. Muitos deles dizem oi quando você chega e tchau quando vai embora. Eles podem não saber semanticamente o que “oi” significa. Mas vem cá: você sabe, por acaso? Não, porque esse significado nem existe. “Oi” é apenas um som que os falantes de português emitem para avisar que chegaram. E que nós aprendemos quando ainda somos projetos de gente. Por esse ponto de vista, um papagaio dando “oi” é algo tão complexo quanto um ser humano dando “oi”.

E talvez eles sejam ainda mais parecidos com a gente. “Acho que entendem o contexto das frases. Dizer que é só imitação é subestimá-los”, aposta Susan Friedman. Nada ainda foi comprovado cientificamente, mas 30 anos de pesquisas parecem endossar a opinião de Friedman. Os papagaios podem resolver algumas tarefas linguísticas semelhantes com a mesma habilidade de crianças entre quatro e seis anos. Pelo menos foi assim com Alex, um famoso papagaio treinado pela pesquisadora Irene Pepperberg ao longo de 30 anos. Ele compreendia os conceitos das palavras “mesmo”, “diferente”, “maior”, “menor” e “nenhum”, além de saber somar números. No total, conhecia 100 diferentes palavras e distinguia cores e formas. Morreu aos 31 anos de idade, do lado de Irene.

Eles podem não ter as artimanhas do cérebro humano para racionalizar um diálogo e aprender uma língua complexa, mas podem, por associação, entender os contextos de cada frase. Ou, como no caso do cavalo Hans, perceber no íntimo da linguagem corporal do dono como agradá-lo e responder da forma como espera. E não é nada surpreendente.

Eles são bichos sociáveis e se comunicam com outras aves por meio dos sons. Um ruído um pouco mais agudo pode significar perigo à vista, uma conversa à toa, ou um pedido de comida de um filhote. Cada cria, aliás, recebe um nome logo após o nascimento.

Um estudo da Universidade de Cornell colocou câmeras em 16 ninhos de papagaios. As imagens mostram os pais “falando” o nome dos filhos antes mesmo que eles fossem capazes de cantar. Depois de algum tempo, os patriarcas ensinavam os filhos a reproduzirem os sons do próprio nome. Essa troca de nomes também não é sem propósito. Quando as turmas se misturam, fica mais fácil gritar o nome dos companheiros do que tentar encontrá-los no meio da papagaiada. Mas, se há a suspeita de que os papagaios sejam gênios linguísticos, o mesmo vale para os cães e gatos? É o que vamos ver agora.

Todo mundo sabe: um cachorro bem treinado senta quando escuta a ordem. Ou rola e dá a pata. Mas eles entendem que essas cinco letras que formam a palavra “senta” significam “flexione as pernas até apoiar as nádegas numa superfície horizontal”? E que “rolar” é o ato de fazer girar? Não, claro. Mas aquela mania de passar o tempo a observar o dono o deixa pronto para memorizar o som da palavra, a entonação, os movimentos corporais e o que aquilo tudo significa.

“Eles aprenderam as deixas mais fáceis para eles e não a palavra `senta¿, que os cães, com seu repertório limitado de sinais vocais, devem achar difícil de distinguir de outras expressões que soem de maneira parecida”, conta John Bradshaw, no livro Cão Senso. É a mesma lógica do cavalo Hans: eles aprendem os pequenos sinais corporais do dono.

Para ganhar espaço no mundo dos homens, seu pet aprendeu a observar cada passo seu. Até os porquinhos-da-índia fazem isso: deixe a gaiola num lugar onde não dá para ver nada e você vai perceber a frustração dele – dificilmente o animal vai interagir com você. Ele precisa conhecer os donos para se acostumar com a companhia e viver as mesmas rotinas. Mas para isso o bicho precisa de tempo para observar.

E eles nos entendem profundamente: sabem quem somos, o que fazemos, coisas que nos agradam ou não (mesmo quando desobedecem). Só quem parece ainda não conhecer tão bem os companheiros são alguns humanos. Os pets já superaram essa fase.

OLFATO
O nariz apurado de um cão pode salvar vidas: treinados, eles detectam se uma pessoa tem ou não câncer de pulmão só pelo odor do hálito. Mesmo que a doença esteja só no começo. Não há máquina capaz de algo parecido.

HOMEM – 5 milhões de células olfativas

CACHORRO – 300 milhões de células olfativas

O MELHOR OLFATO: URSO – 4 Bilhões de células olfativas


AUDIÇÃO

Nenhum animal doméstico é páreo para o gato no quesito audição. Ele consegue ouvir os sons das vibrações corporais dos cupins. E você chegando no térreo, mesmo que esteja num apartamento no décimo andar.

HOMEM – 20 MIL HERTZ

GATO – 60 MIL HERTZ

A MELHOR AUDIÇÃO: BALEIA-BRANCA (OU BELUGA) – 123 MIL HERTZ


VISÃO

Temos três receptores de cor nos olhos: um para cada cor primária (vermelho, azul e verde). Os papagaios têm quatro: os nossos mais um para o ultravioleta. O mundo deles, então, é bem mais colorido que o seu.

HOMEM – 3 receptores de cor

PAPAGAIO – 4 receptores de cor

A MELHOR VISÃO: CAMARÃO MANTIS – 12 receptores de cor


PALADAR

Cachorros e gatos praticamente não sentem o gosto da comida. Se você quiser um bicho de estimação com paladar apurado, compre um porquinho-da-índia, que tem duas vezes mais papilas gustativas que os humanos. Ou arranje um bagre, o campeão mundial de paladar, com três vezes mais papilas que você.

HOMEM – 9 MIL papilas gustativas

PORQUINHO-DA-ÍNDIA – 17 MIL papilas gustativas

O MELHOR PALADAR: BAGRE – 27 MIL papilas gustativas

PARA SABER MAIS
Na Língua dos Bichos
Temple Grandin, Rocco, 2006

Think Like a Cat
Pam Johnson-Bennett, Penguin Books, 2011

Cão Senso
John Bradshaw, Record, 2012

 

Imagens: GettyImages e Wikimedia Commons

Alergia a gatos: Verdade ou mito?

Entre os animais domésticos, os gatos, principalmente os machos e de cor escura (preta e/ou marrom escuro), estão entre os que mais causam reações alérgicas em pessoas com predisposição a alergias. Lembre-se de que nem todos nós desenvolvemos reações alérgicas, mas naquelas pessoas que tem alergias, asmas e reações exacerbadas de coceiras, os gatos podem sim desencadear essas crises.

Os gatos geralmente produzem de um a cinco alérgenos (proteínas) que causam reações alérgicas em humanos. As duas proteínas mais comuns que causam essa alergia são produzidas nas glândulas sebáceas (base do pelo) e outra que é produzida na saliva do gato. Assim, tanto o pelo como a saliva do gato podem desencadear essas crises.

Como o gato costuma se lamber muito a maioria dos pelos caídos pela casa apresentam essas duas proteínas. Então, o leve contado de uma pessoa alérgica com um pelo grudado em uma almofada ou um pelo flutuando no ar pode desencadear crises em alguns segundos depois de entrar em um ambiente onde vive ou viveu um gato.

Uma reação alérgica é uma reação aguda geralmente caracterizada por tosse, chiado, “peito fechado”, congestão nasal, coceira nasal, espirros, dor de garganta crônica ou coceira na garganta, vermelhidão e placas na pele, coceira na pele, coceira e lacrimejamento dos olhos, lábios inchados, podendo em casos mais graves apresentar sérias dificuldades respiratórias pelo edema de glote.

Um estudo indica que 63% das pessoas alérgicas à gatos são alérgicas à proteína da saliva e, por isso, mesmo uma lambida ou mordida de um gato pode causar reações parecidas com uma gripe branda nessas pessoas.

CUIDADOS PARA MINIMIZAR AS CRISES ALÉRGICAS:

Esses indivíduos devem evitar contato com gatos ou ambientes onde os gatos vivem, visto que esses antígenos (proteínas do pelo e da saliva) podem ficar por meses ou mesmo anos nas almofadas, carpetes, tapetes e somente uma limpeza cuidadosa com filtros e purificadores de ambientes podem eliminar essa proteína.

Lavagem frequente das mãos, especialmente após o manuseio do gato, e lavar as mãos antes de tocar os olhos, nariz ou boca ou limitando o gato a ambientes externos ou mesmo impedindo o seu acesso a salas ou quartos dessas pessoas, pode também reduzir essas reações alérgicas.

O uso de anti-histamínicos e descongestionantes nasais podem proporcionar alívio a essa alergia e mesmo medicamentos tópicos (pomadas e cremes) para aliviar as coceiras da pele, sempre sob prescrição médica.

Banhar o gato regularmente pode ajudar a remover quantidades significativas de alérgenos da pele. Além disso, escovar o pelo do gato pode reduzir a quantidade de pelo solto no ar (e sua saliva junto ao pelo quando ele se lambe).

Uma alimentação de boa qualidade e rica em ômega-3 vai proporcionar uma pelagem mais saudável e também diminuir e queda dos pelos.

COMO DIMINUIR AS CRISES ALÉRGICAS?

Como existe uma predisposição racial (gatos de pelo escuro) e sexual (machos), escolher uma gata fêmea, “hipoallergêrnico”, ou seja, um gato com menor predisposição de provocar reações alérgicas em humanos pode ser recomendado, apesar de controverso.

Existem estudos mostrando resultados estatisticamente significativos de que gatas fêmeas das raças Siberianos, Gatos Russos Azuis, Devon Rex, Cornish Rex, Gatos Abissínios e algumas outras raças tendem a ter baixos níveis dessas proteínas alergênicas.

Quando se trata de gatos machos, também se descobriu que os gatos machos castrados produzem menos substâncias alergênicas que os gatos machos não castrados.

Recomendamos que essas pessoas alérgicas aos gatos pensem na possibilidade de ter outro animal de estimação como cães, pássaros e alguns répteis.